20 de janeiro de 2025 - 9:12 AM

'Olha o mate!': conheça alguns dos quase 300 mateiros de galão das praias do Rio regulamentados

 'Olha o mate!': conheça alguns dos quase 300 mateiros de galão das praias do Rio regulamentados
#Compartilhe


Vendedores possuem o título de Patrimônio Cultural e Imaterial da cidade desde 2012. Rio tem 288 profissionais legalizados. Quem exerce a atividade irregularmente pode ter a mercadoria apreendida. Mateiros: 5 curiosidades sobre os vendedores de mate das praias do Rio
“Olha o mate, olha o limão – geladinho!”
Por trás da famosa frase estão ambulantes e símbolos de uma das tradições mais refrescantes do Rio de Janeiro. Os vendedores de mate em galões das praias apostam na regulamentação para manter a importância da atividade e afastar maus profissionais.
Vindos de vários pontos da cidade, eles dizem que o comércio da bebida é uma forma de reconhecimento pessoal e profissional.
“O sol esquentou, a gente vê que vai dar praia, e vamos preparar o mate. Verão, sol, praia e mate”, conta Jurema Ventura, que comercializa a bebida há 16 anos.
Os mateiros possuem o título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Rio de Janeiro desde 2012. O reconhecimento se deu por serem figuras tradicionais que fazem parte do estilo de vida do carioca (veja outras curiosidades no vídeo acima).
A capital fluminense possui, atualmente, 288 mateiros legalizados, com alvarás da Prefeitura do Rio para vender a bebida e biscoito de polvilho nas praias de toda a orla do município.
No último ano, foram 195 profissionais regularizados. A ideia do poder público é que mais vendedores sejam treinados e legitimados a cada ano e que esse número se multiplique.
O processo de regulamentação dos vendedores de mate começou em 2021. De acordo com a Subprefeitura da Zona Sul, que coordena esse processo, os profissionais que comercializam esse tipo de produto precisam da legalização. Caso contrário, estão exercendo a atividade irregularmente e podem ter a mercadoria apreendida.
Torneira protegida em galão com adesivo da Prefeitura do Rio
Cristina Boeckel/ g1
Rainha da praia
A ambulante Jurema Ventura ama todas as praias do Rio, mas os xodós são a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes. Foi levada para as areias pelo filho, que já vendia mate, e queria melhorar a saúde mental da mãe.
“Eu comecei a vender mate com o meu filho. Eu tive uma depressão. Meu filho, que trabalhava aqui na Praia da Barra, começou a me chamar para ir com ele. Para sair e arejar. E eu comecei a me sentir bem.”
A participação era, principalmente, anotando o fluxo de caixa. Pouco tempo depois, o filho de Jurema morreu de infarto, aos 24 anos, na praia. Ela resolveu, então, tomar para si a atividade.
“Salvou a minha cabeça. A venda do mate me levantou, me fez ficar forte. O mate trouxe a minha energia. Eu trabalhei aqui para me erguer”, destacou Jurema.
Além dele, Jurema tem outras seis filhas e faz questão de dizer que a regulamentação da profissão é um alívio.
“Eu me sinto honrada, tranquila, não tenho preocupação. Não tenho estresse e nem aborrecimento com nada”, disse.
Jurema Ventura trabalha como vendedora de mate há 16 anos nas praias do Rio
Cristina Boeckel/g1
Especialização
Os mateiros passam por um processo de capacitação para aperfeiçoar a habilidade de produção da bebida e a forma como servir os clientes. A iniciativa é da Subprefeitura da Zona Sul e conta com as equipes do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e Inspeção Agropecuária (Ivisa-Rio).
Para manter a legalização, é preciso pagar anualmente a Taxa Anual de Uso de Área Pública (TUAP) no valor de R$ 94,83. O registro permite trabalhar em qualquer parte da orla do Rio de Janeiro.
“Temos que estar de touca, com uma roupa adequada. Eu tenho um avental, calça comprida e o tênis. Quando vamos fazer o mate temos que estar com as mãos preparadas, limpas e com unhas cortadas”, explica Jurema.
De acordo com Flávio Valle, subprefeito da Zona Sul, manter uma boa relação com os vendedores de mate é importante para a imagem da cidade.
“A gente se juntou à Vigilância Sanitária para poder oferecer um curso que ensinasse os processos para que o produto entregue seja de acordo com as normas sanitárias. A forma de manejo, a forma de preparo. Tudo o que a Vigilância Sanitária orienta para os estabelecimentos também é válido para como você prepara o mate: a temperatura ideal para acabar com os micro-organismos, a lavagem do galão, como a torneira deve ser preservada, o transporte até chegar à praia”, disse Valle.
Água filtrada e higienização
O curso de boas práticas em que os mateiros recebem orientações sobre higiene e tratamento dos clientes dura cerca de duas horas.
Os técnicos destacam que o fundamental é mostrar para os vendedores a importância de evitar a contaminação no processo de produção. O curso destaca a importância do uso de gelo, água adequada e erva mate de boa qualidade para que o produto possa ser comercializado.
O gelo deve ser filtrado, adquirido de estabelecimento licenciado e com rotulagem completa. O transporte também deve ser feito evitando a contaminação.
O curso usa como exemplos várias marcas de erva mate, mas destaca que ela tem validade de 24 horas e deve ser transportada em recipientes próprios e limpos. A água deve ser filtrada, guardada em limpo e não deve ficar exposta ao sol.
Os produtores do mate bebido nas praias também são orientados sobre a forma adequada de lavar frutas e vegetais folhosos, para as versões do mate de praia que levam frutas como limão ou maracujá.
Os galões devem ser lavados em água corrente antes e depois do uso, com um detergente neutro e uma esponja exclusiva para esta finalidade, para evitar a contaminação. As torneiras dos recipientes merecem atenção especial para a retirada de todo o resíduo. Elas também devem ser protegidas durante o transporte até a praia e nas areias com filme ou saco plástico descartável.
Durante o preparo da bebida, os mateiros devem usar calçados fechados, protetores como toucas para os cabelos e os uniformes devem estar em boas condições de higiene. As unhas devem ser curtas e limpas. Barba e bigode devem ser raspados ou protegidos na hora do preparo do mate.
Marketing
Juninho do Mate trabalha nas praias da Zona Sul do Rio e sente orgulho de ser um símbolo do Rio
Cristina Boeckel/g1
Os vendedores do Rio não possuem parceria formal com nenhum fabricante de mate. Eles contam que a empresa que possui nome nos uniformes não está relacionada à marca.
Inclusive, uma das reivindicações da categoria é a definição de um uniforme oficial para os mateiros do Rio. Fora isso, estão abertos a ações publicitárias, parcerias com empresas e, em muitos casos, trabalham em eventos privados.
Juninho do Mate, nome pelo qual Alexandre Ribeiro dos Santos Junior é conhecido na orla do Rio de Janeiro, também trabalha nas praias há 16 anos. Ele começou no comércio das praias do Rio vendendo cerveja e água, mas migrou para o mate e abraçou a categoria.
“Quando tem sol a gente consegue vender tudo ou quase tudo. São dois produtos: mate e biscoito, que sempre todo mundo quer. Na praia ou até na rua a gente acaba atendendo as pessoas”, contou Juninho.
Juninho do Mate usa boné personalizado nas praias do Rio de Janeiro
Cristina Boeckel/ g1
No início, trabalhava na Praia de Ipanema, mas o Leme é seu point atual, onde está a maior parte da clientela. Mesmo assim, ainda aparece no Arpoador e reencontra os clientes mais antigos, que têm confiança na venda do mate com um vendedor cadastrado.
“Dá segurança saber que está tomando um mate feito com água limpa, filtrada. E eu acho importante para eles, como trabalhadores, se organizarem dessa forma”, disse a administradora Victória Couto, consumidora do mate do Juninho.
As aparições sempre são com o tambor decorado com vários adesivos e com um boné com o nome de trabalho, acompanhado de uma caricatura dele levando mate e biscoito. A ideia da imagem profissional surgiu com a ajuda de um cliente que é especialista em marketing e o orientou a se destacar criando uma marca.
Casado, pai de dois filhos, planeja expandir os negócios. Quer servir mate em todo o país. Sempre sorridente, ele faz questão de sempre lembrar do status de patrimônio da cidade.
“Somos um cartão postal do Rio de Janeiro. Temos que estar sempre com o melhor produto, um sorriso, em harmonia com os clientes”, destacou Juninho.
Segundo ele, a regulamentação da categoria é importante para os próprios profissionais.
“Legalizado e com a sua licença da prefeitura, capacitado para estar aqui, com o curso da Ivisa-Rio, que aí ele vai estar totalmente preparado para estar na areia atendendo a todos”, afirmou.
Sonhando alto
Gilmarrrr do Mate trabalha na altura do posto 9, em Ipanema, há mais de 20 anos
Gilmarrrr do Mate/ Arquivo pessoal
Gilmar Santana da Silva, o Gilmarrrr do Mate (as 4 letras R são para destacar a marca própria) tem como point no Rio o Posto 9, em Ipanema. Foi um dos primeiros mateiros a ter o trabalho regularizado pela Prefeitura do Rio.
O vendedor começou a trabalhar com o mate em 2002. O reconhecimento do poder público veio quase 20 anos depois do dia que colocou o galão nos ombros pela primeira vez.
“É muito importante porque passa transparência e dá visibilidade. Isso abre as portas quando faz evento. Até os estrangeiros têm um outro olhar, porque estamos com um símbolo da prefeitura. Estamos lá, emplacados, bonitões”, disse Gilmarrrr.
Inicialmente, o trabalho como mateiro não era a primeira opção. Ele trabalhava como cobrador de ônibus e, nas horas vagas, complementava a renda com a venda de mate e biscoito na praia. Com o processo de automatização da função que exercia, ele acabou sendo demitido. Assim, assumiu a função como a principal para sustentar a família que, destaca, conta com 8 crianças entre filhos e afilhados.
Assim como Juninho, Gilmarrrr também usa um boné customizado com seu nome (com os 4 Rs) e um copo de mate ao lado de um pacote de biscoito de polvilho.
Gilmarrrr afirma que o segredo para atrair o consumidor é a positividade e fazer com que o consumidor se sinta especial. Segundo ele, é preciso ser comunicativo, atencioso e carismático. Além dos sabores tradicionais de mate, ele oferece limão e maracujá com gengibre e hortelã.
“Tem que estar bem trajado, com as vestes do mate. Muitas vezes as pessoas estão carentes de receber um bom dia nas areias”, contou.
O trabalho de vendedor de mate passa por mais espaços do que só oferecer o produto nas areias. Ele conta que é preciso frequentar com assiduidade a Ceasa para comprar as matérias-primas mais baratas.
As vendas de mate têm um pico entre os meses de outubro e março. De acordo com Gilmarrrr, depois elas ainda existem, mas em um ritmo menor. Para ele, uma ideia para driblar a queda é ter autorização para vender em outros pontos do Rio.
“A nossa licença é para praia, para a orla. Queremos atender em outros lugares, como a Quinta da Boa Vista, o Cristo Redentor, a chegada da maratona, quando as pessoas estiverem com sede”, destacou.
Praia de Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro
Cristina Boeckel/ g1
source

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

três × 4 =